A única de opinião contrária ao aborto de um bebê anencéfalo (sem parte do cérebro) foi uma irmã da ccb. E você o que acha?

A evangélica R.N.S.R, 29 anos, de Palmares Paulista, desistiu de abortar um feto anencéfalo (sem cérebro) com 12 semanas de gestação. Ela havia conseguido autorização na Justiça de Santa Adélia no dia 10 de fevereiro para fazer o aborto, mas a decisão foi suspensa por uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo no último sábado. Por intermédio de uma cunhada, a dona de casa D.R., 30 anos, a gestante disse ontem à tarde ao Diário que desistiu de abortar o bebê e que está bem de saúde. Ela estava em casa e não quis dar entrevista.

R. tem consulta hoje com um obstetra de Catanduva. A gestante, que não fez pré-natal, já tem dois filhos, um de 5 e outro de 2 anos. Ela veio da Bahia há cerca de dez anos e é casada com um pedreiro. Sua família vive em uma casa nos fundos do terreno em que moram seus sogros. O aborto estava agendado para segunda-feira, no Hospital Padre Albino, em Catanduva, mas quando a gestante chegou com o marido para realizar o procedimento, foi comunicada da decisão do Tribunal de Justiça e a interrupção da gravidez não foi realizada.

A liminar atendeu a pedido do advogado Marcos Antônio Favaro, de Guarulhos, que foi pessoalmente ao TJ no sábado de manhã e conseguiu a decisão do desembargador de plantão, Camilo Léllis. No Tribunal, o pedido do advogado Favaro foi distribuído a uma das Câmaras de Direito Criminal, que deverá decidir se a decisão da liminar ficará valendo ou não na próxima semana.

No mesmo dia em que teve a notícia de que não poderia fazer o aborto, R. recebeu a visita do padre de Palmares, Marcelo Delalibera, enviado por orientação de dom Octacílio Rodrigues, bispo da diocese de Catanduva. “Entendemos que a vida deve ser respeitada. Não é porque o bebê pode viver por apenas uma hora ou menos que pode ser assassinado. E ainda que nasça morto, tem o direito de nascer. Não podemos adiantar a morte das pessoas”, defendeu o bispo.

Dom Octacílio foi acionado pela Comissão de Ética e Defesa da Vida da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que tomou conhecimento do caso por meio da imprensa. Embora aparentemente a mudança de planos da mãe possa ter tido influência direta da Igreja Católica, dom Octacílio nega que o padre tenha pressionado R. a desistir do aborto. “Ela havia tomado essa decisão (pela interrupção da gravidez) por falta de orientação. Conseguimos convencê-la a não abortar”, disse dom Octacílio.

A consulta com o obstetra de Catanduva foi providenciada pela Igreja Católica, que é contra o aborto. O Diário apurou que no encontro com o padre foi oferecido suporte à mãe no que for preciso durante a gravidez. A mulher estava desnutrida e recebeu mantimentos da Igreja. Ela e o marido também serão acompanhados por uma psicóloga a partir de hoje. A mulher também deverá passar por uma bateria de exames e será realizada uma nova ultrassonografia.

R.C.B., 26, outra cunhada de R., disse que a família não interferiu em nas decisões do casal. “Eu sabia (da anencefalia), mas não tinha comentado com ninguém, nem sei como esse padre ficou sabendo. Nem tem como eu dar opinião. Ninguém dá opinião nenhuma, só eles que passam é que sabem.” R. e os familiares do marido frequentam a igreja Deus é Amor.

Favorável

Na cidade, a maioria das pessoas ouvidas pelo Diário foi a favor do aborto de bebê anencéfalo. “Se a criança não tem chances de sobreviver e a mãe sabe disso, eu apoio. Agora, se for pecado e a criança sobreviver, Deus me perdoe”, disse o aposentado católico José Ramiro Ventura, 51, que tem uma neta de dois meses. “Acho que tem de abortar mesmo.

O nascimento de uma criança com esse defeito só traz sofrimento para a própria família e o bebê”, afirmou o empresário Benedito Cachoeira, que é católico. “Se não há expectativa de vida, sou a favor”, disse o pastor da Igreja Universal Eduardo Vicenzoto. Única de opinião contrária, a dona de casa evangélica Maria Teixeira, 51, da Congregação Cristã, acredita no “poder de Deus”. “Deus pode fazer a obra nesses meses que faltam e a criança nascer perfeita.”

Incidência é de um para 700 bebês

Para cada 700 fetos gerados no Brasil, um nasce sem o cérebro, de acordo com Antonio Fernandes Moron, especialista em medicina fetal da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A anencefalia decorre do desenvolvimento incompleto do embrião, e pode ser constatada a partir da quarta semana de gestação. É motivada por fatores genéticos ou pela carência de ácido fólico no organismo materno.

Na ampla maioria dos casos, segundo Moron, o bebê já nasce morto, mas eventualmente pode sobreviver por algumas horas, quando a criança nasce apenas com o tronco cerebral, que controla a respiração e os batimentos cardíacos. Marcela de Jesus Ferreira contrariou a estatística médica.

Ela viveu um ano e oito meses em Patrocínio Paulista (SP), e se tornou símbolo na luta dos católicos contra o aborto de anencéfalos. No entanto, de acordo com Moron, a bebê era portadora de outro defeito genético, a merocrania, e tinha parte do cérebro. “A Igreja Católica agiu de má-fé ao misturar as duas coisas e usar o bebê para defender suas causas”, disse o especialista.

Fonte e notícia na íntegra: www.diarioweb.com.br - Graziela Delalibera e Allan de Abreu