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"Não há em mim um fogo que busque alimentar-se da matéria, apenas uma água viva e murmurante dentro de mim, dizendo-me em segredo: Vem para o Pai!"
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"Não há em mim um fogo que busque alimentar-se da matéria, apenas uma água viva e murmurante dentro de mim, dizendo-me em segredo: Vem para o Pai!"
(Olhando o fim da vida de Inácio você não sente nojo da Teologia da Prosperidade???)
O imperador Trajano promulgara um edito afirmando que todos os cidadãos do Império Romano seriam obrigados a fazer sacrifícios aos deuses de Roma ou enfrentariam sérias conseqüências.
De forma geral, Trajano obtivera bastante sucesso, exceto com a seita dos cristãos, cujos seguidores sempre se recusavam a obedecer–lhe. Quando chegou a Antioquia, decidiu julgar Inácio publicamente como forma de inibir outros cristãos que também se negavam a sacrificar aos deuses romanos. Inácio era o líder da igreja de Antioquia e um cristão de renome, principalmente depois da morte de João, ocorrida poucos anos antes.
Trajano olhou para Inácio com desprezo e disse:
– Quem é você, verme miserável, que desafia e ignora minhas ordens e ainda convence outros a fazer o mesmo, apesar de saber que trará sobre si uma dolorosa morte?
Com tranqüilidade, porém firme, Inácio se defendeu diante do imperador e de toda a multidão, dizendo que continuaria a desobedecer à ordem real, e incentivaria outros a fazerem o mesmo, porque "Jesus Cristo é o único Deus verdadeiro".
Trajano questionou Inácio sobre Jesus, perguntando–lhe se aquele de quem falava era o indivíduo que fora crucificado por Pôncio Pilatos. Inácio respondeu:
– Sim, e ele mora em meu coração. Surpreso, o imperador perguntou–.
– Então você diz que carrega um homem crucificado dentro de você?
– Certamente – Inácio respondeu – Pois está escrito: "Eu habitarei neles e neles andarei".
Ao ouvir isso, Trajano resolveu pronunciar a sentença – "Vejo que este homem está incuravelmente envolvido pela superstição dos cristãos. Portanto, ordeno que Inácio, que afirma carregar em si aquele que foi crucificado, seja levado por soldados a Roma, onde será devorado por animais selvagens para entreter o povo".
Para a surpresa de Trajano, a condenação a uma dolorosa morte não abateu Inácio, que olhou para o céu e disse–."Agradeço–Te, Senhor, por ter–me dado a honra de mostrar a Ti todo o meu amor, e por permitires que ficasse acorrentado assim como foi com o apóstolo Paulo".
Nos meses que se seguiram, Inácio foi escoltado até Roma por dez soldados, onde foi novamente preso, julgado e submetido a terrível torturas para que blasfemasse contra o nome de Jesus e sacrificasse aos deuses de Roma. Entretanto, Inácio, ao contrário de ter sua fé abalada, se fortalecia ainda mais no Senhor.
Por fim, foi levado diante do Senado, que o condenou imediatamente a ser jogado aos leões.
Ao ser lançado na arena antes do ataque das feras, Inácio olhou para a multidão e proclamou seu amor a Jesus dizendo aos presentes que seu único crime era amar a Deus e não se curvar diante dos ídolos de Roma.
Assim que acabou de falar, dois leões foram soltos e atacaram o bispo de Antioquia. Tão brutal foi o ataque dos animais que, em poucos minutos, não havia vestígios de seu corpo nem sequer dos ossos. Ele foi despedaçado, mas a luz do seu exemplo brilha através dos séculos.
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"Procuro aquele que morreu por nós!"
Entretanto, se as cartas deste insigne doutor manifestam toda a riqueza de seu ensinamento teológico, uma outra ainda, aquela enviada aos romanos, deixa entrever o sublime ardor de sua alma, elevada aos píncaros da mais pura mística. Tendo-lhe chegado a notícia de que os fiéis de Roma procuravam interpor toda sua influência para afastar dele a mortal condenação, apressou-se em dirigir- lhes, desde Esmirna, uma comovedora súplica: "Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que com alegria morro por Deus, contanto que vós não mo impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência intempestiva. Deixai-me ser alimento das feras, porque, através delas, pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus: que seja eu triturado pelos dentes das feras para tornar-me puro pão de Cristo!
Instigai, ao contrário, os animais para que neles encontre o meu sepulcro e nada reste de meu corpo para não ser pesado a ninguém, depois de adormecer. Então serei verdadeiro discípulo de Cristo, quando o mundo não mais vir sequer o meu corpo. Suplicai a Deus por mim, que por este meio me torne uma hóstia para Deus. [...]
Que nada, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis, segure o meu espírito, a fim de que eu possa alcançar a Jesus Cristo. Que o fogo, a cruz, um bando de feras, os dilaceramentos, os cortes, a deslocação dos ossos, o esquartejamento, as feridas pelo corpo todo, os duros tormentos do diabo venham sobre mim para que eu ganhe unicamente a Jesus Cristo! [...]
Procuro aquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai- me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus.
[...]vivo, vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado. Não há em mim um fogo que busque alimentar-se da matéria, apenas uma água viva e murmurante dentro de mim, dizendo-me em segredo: ‘Vem para o Pai!' [...]
Se for martirizado, vós me quisestes bem. Se for rejeitado, vós me odiastes." 7
Expressões de tão heróica caridade só poderiam brotar de um coração tomado pela graça do martírio de maneira superabundante. Com efeito, assim nos explica Tomás de Aquino: "Entre todos os atos de virtude, o martírio é aquele que manifesta no mais alto grau a perfeição da caridade. Porque tanto mais se manifesta que alguém ama alguma coisa, quanto por ela despreza uma coisa amada e abraça um sofrimento. É evidente que entre todos os bens da vida presente aquele que o homem mais preza é a vida e, ao contrário, aquilo que ele mais odeia é a morte, principalmente quando vem acompanhada de torturas e suplícios por medo dos quais ‘até os próprios animais ferozes se afastam dos prazeres mais desejáveis', como diz Agostinho. Deste ponto de vista, é evidente que o martírio é, por natureza, o mais perfeito dos atos humanos, enquanto sinal do mais alto grau de amor, segundo a palavra da Escritura: ‘Não existe maior prova de amor do que dar a vida por seus amigos.'"
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