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Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: Uma igreja em terras Guaranis. (Leitura recomendada)

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Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: Uma igreja em terras Guaranis. (Leitura recomendada) Empty Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: Uma igreja em terras Guaranis. (Leitura recomendada)

Mensagem por Admin Qui Set 09, 2010 9:30 am



A paz de Deus,

Alguns já tem conhecimento da Congregação Cristã, na Aldeia Laranjinha, no munícipio de Santa Amélia - Pr, inclusive, constando em nosso relatório. Mas, esse trabalho realizado por uma antropóloga, edificará alguns corações, afinal, descreve a conversão de uma aldeia a uma denominação evangélica, no caso, a própria ccb.


Última edição por Admin em Qui Set 09, 2010 12:57 pm, editado 1 vez(es)

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Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: Uma igreja em terras Guaranis. (Leitura recomendada) Empty Primeira parte

Mensagem por Admin Qui Set 09, 2010 9:34 am

Por: Valéria Esteves N. Barros


Resumo: Este trabalho pretende levantar / analisar alguns pontos sobre a conversão dos Guarani que vivem na terra indígena Laranjinha a uma religião pentecostal. Apresento aqui dois momentos vividos pelo grupo de Laranjinha: um marcado pela participação na casa de rezas, outro na igreja da Congregação Cristã no Brasil, construída dentro da própria TI na década de 1990. O objetivo é mostrar as rupturas e continuidades na religiosidade do grupo, no interior do qual encontramos a coexistência de diferentes lógicas, que se sobrepõem e interseccionam continuamente, permitindo aos Guarani interagir com essa nova instituição e com as conseqüências dessa filiação sem perderem a lógica de seu próprio modo de ser.



Até pouco tempo, os estudos antropológicos que, de alguma forma, abordavam diferentes tipos de atividade religiosa entre povos indígenas, eram direcionados, em sua maioria, para a compreensão do impacto" degradante" causado pela atuação de igrejas ou missões cristãs entre eles. E nessa perspectiva, muitas vezes a religião cristã era considerada como mais uma forma de dominação imposta pela sociedade nacional, formando um "campo" onde não havia espaço para negociações e
reorganizações simbólicas nativas.

O encontro de diferentes sistemas cosmológicos e formas de se viver a realidade social inegavelmente implica o reordenamento de algumas estruturas das culturas envolvidas, mas há que se ter claro que as conseqüências desse encontro repercutem de ambos os lados e das mais variadas formas. Partindo desse ponto de vista, a adesão de um grupo indígena a determinada religião cristã, por mais que resulte na criação de novos" espaços" dentro da vida social e da própria cosmologia do grupo, não implica necessariamente a destruição de categorias indígenas "tradicionais". Este é o argumento central que estará sendo desenvolvido aqui a respeito da conversão do grupo guarani que vive na terra indígena Laranjinha a uma religião pentecosta (após a instalação de uma igreja da Congregação Cristã no Brasil na área indígena, praticamente todo o grupo se converteu à nova religião).

Os Guarani pertencem ao tronco lingüístico tupi, e à familía lingüística tupi-guarani (Rodrigues, 1984).Apesar de constituírem um núcleo comum, presente em sua cultura como um todo, podemos encontrar três parcialidades Guarani: os Kaiowá, os Mbyá e os Nandéva, esta última predominante na terra indígena Laranjinha.

A aldeia de Laranjinha, localizada no município de Santa Amélia (no estado do Paraná), conta com aproximadamente 100 alqueires. A distância que separa a aldeia desse município é de aproximadamente 3,5km. Os dados de 2002 apontam uma população de pouco mais de
200 pessoas. A respeito dessa população, é importante ressaltar sua heterogeneidade, ligada ao aldeamento de grupos com diferentes procedências e trajetórias em um mesmo local, além do casamento de seus membros com indivíduos de outra etnia indígena, ou mesmo não-índios.



Última edição por Admin em Qui Set 09, 2010 1:02 pm, editado 2 vez(es)

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Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: Uma igreja em terras Guaranis. (Leitura recomendada) Empty Parte 2

Mensagem por Admin Qui Set 09, 2010 9:39 am



Falaremos aqui de dois momentos distintos vividos pelo grupo nos últimos anos: um marcado pela participação na casa de rezas (a "igreja guarani") e outro pela filiação à Congregação Cristã no Brasil. Até o final da década de 80, todos em Laranjinha participavam dos rituais realizados na casa de rezas semanalmente. Nos últimos anos em que ela esteve funcionando, o depoimento de várias pessoas aponta para uma figura importante à frente dela: Lica, que dirigia as rezas e comandava todas as atividades ligadas à casa de rezas e à "vida espiritual" do grupo. A liderança dessa mulher devia-se não apenas ao fato dela "falar" com as divindades, recebendo delas instruções sobre como
conduzir o grupo, mas também ao fato dela ter "fundado" a casa de rezas, que já tinha sido abandonada em um período anterior.

Lica, que muito jovem casara-se com um não-índio, viveu com seu marido e filhos durante muito tempo fora da área indígena. Retomando para lá com sua família, ela fez com que os rituais recomeçassem, passando a dirigi-los.

Segundo Almeida, que realizou pesquisas na TI Laranjinha no início da década de 1980, a "igreja" Guarani era um importante centro social e representava, de certa forma, um mecanismo de equilíbrio e alívio das tensões presentes no interior do grupo, pois por meio dos rezadores eram refletidos para o plano religioso problemas tais como faccionalismo ou desavenças pessoais que acabavam então sendo solucionados ou contornados pelo grupo (Almeida, 1982).

Os depoimentos apontam que Mário, filho de Lica, participava ativamente de todas as atividades ligadas à casa de rezas ao lado dela. Mário é uma figura de muito prestígio e influência dentro do grupo de Laranjinha. Já foi cacique e chefe de posto durante muito tempo e, como ele dividia o
comando e as obrigações da casa de rezas com a mãe, todos esperavam que ele fosseseu sucessor. Entretanto, Mário afirma que na época (meados da década de 1980)a comunidade de Laranjinha enfrentava muitos problemas.

Como a área da reserva era muito pequena, as pessoas precisavam sair dali para trabalhar e estudar, entrando em contato com uma realidade que acabava por resultar em diferentes interesses e ambições:

Se a área fosse grande, com muitos índios e com meios de se autosustentar, a casa de rezas e a religião Guarani poderiam ter se mantido, e todas aquelas coisas poderiam ser passadas adiante. Mas os jovens não se interessavam por nada daquilo e havia problemas muito graves de prostituição, violência e drogas...eles [os jovens] não participavam mais.

Mesmo antes de ser cacique, Mário já participava da liderança do grupo, e em constante contato com diferentes segmentos da sociedade envolvente, começou a se relacionar com membros da CCB e passou a freqüentar os cultos a convite deles não apenas em Santa Amélia, mas também em outras cidades da região.

Decidiu batizar-se em 1986 (no que foi duramente repreendido pela mãe, que não concordou com sua atitude) e, desde então, ocupou diferentes posições dentro da igreja até chegar a ser indicado para cooperador, quando então passou a dirigir os cultos celebrados em Laranjinha.

Apesar da conversão de Mário poder ser apontada como decisiva para o estabelecimento da Congregação Cristã no Brasil em Laranjinha, pois ele foi o grande responsável por converter grande parte das famílias à nova igreja, atuando como um mediador e anunciador da "nova fé", é preciso destacar que o contato do grupo com a nova igreja se deu também a partir de outras redes de sociabilidade já existentes, por exemplo, entre os índios e as famílias não-índias da região que estavam ligadas a eles por meio de casamentos (índios casados com não-índios); de vizinhos ou conhecidos que freqüentavam a igreja; e dos parentes que moravam em outras cidades e que já participavam da CCB.

E ainda com relação a essas redes de sociabilidade, é importante considerar que por intermédio delas deu-se o contato do grupo não apenas com a CCB, mas com um campo religioso mais amplo (igrejas protestantes, católica, Assembléia de Deus, etc.), resultando na conversão à CCB.

Depois de um período onde os cultos da CCB coexistiram com os rituais da casa de rezas, esta última foi abandonada, em 1991, quando o último rezador a dirigir os cantos converteu-se. Atualmente, a grande maioria do grupo participa ativamente dos cultos e atividades promovidos pela nova igreja. Ainda que esse abandono das atividades ligadas à casa de rezas marque uma ruptura dentro da vida do grupo, a filiação à CCB aparece nas falas do grupo sempre marca da por um caráter de continuidade.

Segundo Flávio, que junto com sua família participa ativamente dos cultos da CCB, "não existe diferença entre a casa de rezas e a igreja agora.

Da mesma forma como antes a gente rezava e falava com Deus, agora também a gente faz isso. Deus vem até nós... Então é como se fosse a mesma coisa.

Feita esta breve exposição do estabelecimento da CCB na terra indígena Laranjinha, a intenção é apontar qual o sentido dessa filiação, analisando, a partir dos relatos colhidos entre o grupo, não apenas os pontos de "ressonância" entre sistemas simbólicos aparentemente distintos, mas também a forma específica como o grupo se apropriou das categorias trazidas pela nova religião, moldando-as à luz de seu substrato cultural e simbólico.

Muitos são os pontos em que se aproximam os cultos e pregações da CCB com os rituais realizados anteriormente na casa de rezas: a importância dos sonhos e visões, que conectam os indivíduos a outro nível da realidade e permitem o acesso à divindade; a inspiração do líder religioso, que fala sob inspiração divina; as regras de conduta que conduzem o fiel ao "paraíso"; a interpretação comunitária dos dramas pessoais; a crença na destruição futura do mundo. Entretanto, é preciso buscar o sentido dessa filiação (ou conversão), situando-a também dentro de um contexto onde encontramos agentes sociais concretos envolvidos num sistema específico de relações sociais, políticas e econômicas, e em determinado momento histórico. Isso porque o núcleo doutrinário apresentado pela nova religião acaba sendo atualizado e mesmo reformulado pelos atores sociais, e a proposta inicial acaba, muitas vezes, sendo comprometida. E no caso da CCB,a unidade das idéias e interpretações compromete-se ainda mais, visto não haver em sua organização instrumentos ou mecanismos que promovam essa "unidade".

No caso de Laranjinha, podemos dizer que existe uma subordinação - ou até mesmo adequação, da doutrina pregada pela CCB às práticas sociais do grupo, que se torna visível nas falas e relatos de seus moradores, nas quais encontramos toda uma "lógica guarani" a permear julgamentos, decisões, atitudes, interpretações, etc. A conversão de Lica, antiga liderança da casa de rezas, aponta para isso, pois em seu depoimento ela afirma ter se convertido seguindo os conselhos dos seus" guias":

Daí, um dia, num sonho, ele [o guia] falou assim para que eu largasse mão. Se eu quisesse viver muito tempo com os meus netos, com minhas filhas, com meus filhos... então era para eu me retirar da igreja [casa de rezas], porque a turma não estava reconhecendo o que eu faço para eles. [...] Daí falou: 'Largue mão, abandona a igreja [casa de rezas], deixa como está'. Daí o meu filho batizou e por ali eu fui seguindo. Quando foi um dia, eu falei: 'Vou batizar também. Pronto'. Porque ali na igreja nossa igreja [CCB], ali a gente vai escutar... vocês não vêem conversar diferente. Vão escutar a bondade dos irmãos, falando bem da gente [...].E lá no nosso culto [CCB]não se vê lá um bêbado xingando perto da cruz. Às vezes [na casa de rezas] a gente estava lá rezando lá...e estava lá quase brigando perto da cruz, todo mundo... então daí eu fiquei desgostosa,né. [...]Agora [naCCB]é melhor.Mas...se tudo fosse unido, então se fosse unido, como aí na igreja dos crentes, eu já digo... porque ali [na casa de rezas], era bom ali. Porque ali a gente, como diz... rezava e... a criança estava lá na última e levava lá [na casa de rezas] e apresentava para eles e já no outro dia a criança estava comendo, já estava andando por aí. Foi por causa da turma mesmo que eu me desgostei.

No contexto da aldeia, os "convertidos" continuam desempenhando normalmente seus papéis, e o fato de conviverem com pessoas de outro credo religioso, como os católicos, não é visto como problema. O "bom crente" é aquele que cumpre suas obrigações sociais, estabelecendo relações pacíficas e cordiais com seus conhecidos, vizinhos, parentes, etc., atualizando as regras que norteiam o comportamento de cada um, de acordo com sua posição no grupo doméstico e no contexto mais amplo da aldeia. Assim, a conversão de forma nenhuma leva ao rompimento com as redes de relações anteriores, até porque, a "irmandade" de Laranjinha foi constituindo-se aos poucos, com a conversão de alguns indivíduos, depois famílias, etc.

Essa" irmandade", que abrange não apenas os moradores da terra indígena, mas toda a comunidade mais ampla ligada à CCB na região, atua como uma nova rede de apoio que potencializa a manutenção das condições de subsistência do grupo, pois amplia o acesso dos membros da aldeia a cargos e empregos antes vetados, além de inserir as famílias na ampla rede de solidariedade promovida pelo "Ministério da Piedade". Entretanto, ela não substitui nem abrange as redes que já existiam anteriormente envolvendo parentes, compadres e vizinhos.

As redes de reciprocidade / solidariedade da CCB são organizadas exatamente para promover e maximizar a ajuda entre os "irmãos de fé", entretanto, no caso de Laranjinha, as outras redes continuam atuando, englobando assim o grupo como um todo, e não apenas os "crentes".

Assim, tal como já colocado acima, a ausência de um organismo centralizador a planejar a formação religiosa de seus sacerdotes (cooperadores e anciãos) e sua ação nos muitos núcleos da CCB espalhados no país, garante a seus fiéis uma autonomia que resulta em diferentes formas de se apreender e vivenciar sua doutrina. Dessa forma, o panorama que se observa em Laranjinha é o de uma igreja que reúne pessoas com uma longa convivência em comum, e que reforça mecanismos de ajuda mútua baseados em relações simétricas entre seus membros, que se encontram sob a direção de um líder espiritual, Mário, que, se não fosse o cooperador da CCB, seria, em suas próprias palavras, "o pajé".

Assim, toda a fala e a pregação de Mário, aponta para uma continuidade de conteúdos e significados preexistentes. Mesmo quando as pregações são feitas por outras pessoas (como no início da instalação da CCB na aldeia, quando os cultos eram celebrados pelo cooperador de Santa Amélia), elas refletem a vivência de pessoas também próximas, que vivem situações em comum no contexto mais amplo da região onde se encontra a terra indígena Laranjinha.

Tal como apontado acima, ao mesmo tempo em que se tomar "crente" implica uma certa separação, uma ruptura com o modo de vida vivido anteriormente, geralmente marcado por "erros" e "pecados", esse ato abre também a possibilidade de realizar/atualizar um modelo de vida marcado por um comportamento moderado, pela inserção em uma comunidade de irmãos, a entrada na ampla rede de reciprocidade/ solidariedade.

Não seria esse o ideal buscado pelos Guarani: uma vida em comunidade marcada pela reciprocidade, regras e rituais que conduzem ao "paraíso”? O modelo de vida proposto pela CCB não é estranho ao modelo ideal de vida característico dos Guarani e, se antes o grupo encontrava dificuldade em atualizar esse modelo (a fala de muitas pessoas associa a filiação à nova religião ao contexto de crise social e econômica enfrentado pelo grupo na década de 1980),agora a CCB propõe
formas de torná-lo real.

É interessante também mencionar que o longo e exacerbado contato dos Guarani com as sociedades dos países que ocupam seu território tradicional é um tema marcante na produção teórica sobre eles,permeando constantemente as análises feitas por diferentes autores, seja para negar possíveis influências deste" contato" sobre a cosmologia guarani, seja para considerá-lo uma tentativa de atingir o que, de fato, seria" original" na cultura desse grupo, separando dela as inovações/incorporações.

Nesse sentido, os trabalhos mais contemporâneos trazem importantes contribuições, atentos que estão à forma dinâmica e criativa com que esses diferentes grupos reagem e interagem com a sociedade nacional sem, contudo, perderem o sentido de si mesmos e mostrando, que, então,
o que temos nestes complicados encontros entre sistemas simbólicos distintos não é nem a transformação radical em outra coisa, nem uma reprodução fiel sob nova roupagem, de forma que ainda que as pressões externas sofridas por uma cultura indígena sejam responsáveis por muitas
mudanças culturais, estas mudanças envolvem escolhas e decisões que sempre são tomadas do interior da cultura em questão. É claro que existe muita violência envolvendo estes contatos interétnicos, mas a adesão ao cristianismo não deve ser considerada unicamente como a aceitação
de algo imposto e diante do qual não há escolha, mas sim uma tomada de posição diante da situação de contato imposta ao grupo.


Última edição por Admin em Qui Set 09, 2010 1:08 pm, editado 2 vez(es)

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Mensagem por Admin Qui Set 09, 2010 9:44 am



E no caso dos Guarani de Laranjinha, acredito que suas falas,longe de tentarem justificar a aceitação da Congregação Cristã no Brasil, apontam para uma consciência das incorporações / reelaborações feitas por eles ao longo de sua história.

Antes os índios deviam ter uma religião natural, mas depois foram pegando coisas que eles nem sabiam...as cruzes que tem na casa de rezas mesmo...aquilo não tem na natureza. Como foi parar ali? Deve ter vindo dos padres ...

Assim, a filiação à CCB e a adesão aos princípios doutrinários cristãos propostos por ela não podem ser vistos como uma influência "nova" e "estranha" no universo social e cultural do grupo. Além dos "pontos de ressonância" apontados acima, no caso do grupo de Laranjinha, essa adesão encaixa-se também na lógica de uma política adotada pelos Guarani desde o começo da colonização do Estado do Paraná: a aliança com outras etnias indígenas e com não-índios enquanto um meio de inserir o grupo na nova situação econômica, política e social.

Por fim, gostaria de mencionar que ao discutir a filiação do grupo à Congregação Cristã no Brasil referimo-nos a um período de tempo muito pequeno dentro da longa e diferenciada trajetória dos indivíduos que atualmente vivem em Laranjinha e, mesmo, dentro do já mencionado longo e exacerbado contato dos Guarani com a sociedade ocidental.

A literatura sobre os Guarani aponta para uma manifestação antiga e constante de conteúdos e formas religiosas que, presentes nos relatos de missionários e viajantes, são também encontradas nas etnografias sobre os grupos guarani atuais. E no caso específico dos Guarani de Laranjinha,
essa "constância" de conteúdos é reforçada pelo fato de que o próprio xamanismo "tradicional" é a "chave" para entendermos a aceitação da nova religião.

Esclarecimentos:

1 - Os cultos da CCB começaram a ser celebrados em Laranjinha no início da década de 1990,inicialmente no pátio da casa de Mário e, pouco tempo depois, no templo construído dentro da própria aldeia graças às contribuições dos "irmãos de fora". É preciso mencionar também a existência de um templo da igreja católica dentro da terra indígena, construído no início da década de 2000, onde são realizadas missas esporadicamente. Essas são freqüentadas por poucas pessoas do grupo e de forma pouco assídua.

2 - Com relação à CCB, é importante destacar o fato de que ela não possui um corpo específico de missionários, mas que, no entanto, todo fiel é considerado um missionário em potencial..

3 - O Ministério da Piedade, composto por mulheres pertencentes à CCB,tem o objetivo de assistir as famílias mais carentes que fazem parte da "irmandade", distribuindo entre elas roupas, remédios e alimentos.

4 - A palavra xamanismo foi criada por antropólogos (ver em xamã) para definir um conjunto de crenças ancestrais. Para mim é um caminho de conhecimento. Nós podemos perceber traços do xamanismo em várias religiões. O xamanismo é uma filosofia de vida muito antiga, que visa o reencontro do homem com os ensinamentos e fluxo da natureza e com seu próprio mundo interior.

Fonte: BARROS,Valéria E. N. Da casa de rezas à Congregação Cristãno Brasil:o pentecostalismo
guarani na terra indígena Laranjinha/PR. 2003. Dissertação (Mestrado em Antropologia
Social) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

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