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A Escola do Espírito Santo estabelecida por Jesus...

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Mensagem por Admin Qui maio 02, 2013 8:32 pm



As primeiras metáforas sobre escrita e leitura que chamaram a minha atenção foram as de Kafka: “Se o livro que estamos escrevendo não nos acordar, como se fosse um punho martelando nosso crânio, por que, então, lê-lo? [...] Um livro deve ser como um machado de gelo para quebrar o oceano gelado dentro de nós”. Àquela altura, por força da vocação de pastor e professor, eu estava envolvido na tarefa de fazer que as pessoas se interessassem pela leitura correta das Escrituras. Fiquei desanimado ao constatar que, para elas, a leitura da Bíblia não parecia muito diferente da maneira pela qual liam a página de esportes, a tirinha cômica ou os anúncios de emprego no jornal. Queria acordar essas pessoas e virá-las ao avesso. Queria que vissem a Bíblia como um livro que bate forte, como uma espécie de machado quebra-gelo. Quando olho para trás, lembro que a estratégia usada por mim naquele tempo era alterar a voz. Eu mal notava a violência nas minhas metáforas; queria fazer diferença. Foi então que uma pergunta de Wendell Berry me pegou de surpresa: “Você já acabou de matar/todos os que combatiam a paz?”. Compreendi que a violência implícita nessas metáforas não era exatamente adequada ao que eu tinha em mente: guiar leitores cristãos para receberem as palavras das Escrituras Sagradas como alimento para as suas almas.

Em seguida, notei que a metáfora bíblica mais surpreendente sobre a leitura era a de João comendo um livro:

Assim me aproximei do anjo e lhe pedi que me desse o livrinho. Ele me disse: “Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu estômago, mas em sua boca será doce como mel”. Peguei o livrinho da mão do anjo e o comi; ele me pareceu doce como mel em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu estômago ficou amargo. Apocalipse 10:9-10

Antes dele, Jeremias e Ezequiel também haviam comido livros — ao que parece, uma boa dieta para qualquer pessoa que se interesse em ler corretamente as palavras.

Para chamar atenção, isso é tão bom quanto Kafka, mas como metáfora é muito melhor. João, esse apóstolo sempre envolvente, pastor e escritor da igreja primitiva, aproxima-se do anjo e pede: “Dê-me o livro”. O anjo o entrega, dizendo: “Ei-lo aqui. Coma. Coma o livro”.

João faz isto: come o livro — não apenas o lê. O livro agora é parte de seus terminais nervosos, de seus reflexos, de sua imaginação. O livro que comeu constitui as Escrituras Sagradas. Assimilado por sua adoração e oração, por sua imaginação e seus escritos, o livro que comeu foi metabolizado no livro que escreveu, o primeiro grande poema da tradição cristã e o último livro da Bíblia, o Apocalipse.

* * *

O professor Austin Farrer, de Oxford, em suas “Palestras de Bampton”, referiu-se à “disciplina proibida da leitura espiritual”, por exigir que leiamos com toda a nossa vida, e não apenas empregando as sinapses em nosso cérebro. Proibida por causa das infindáveis evasivas que inventamos para evitar o risco da fé em Deus. Proibida por causa de nossa incansável criatividade, que nos leva a usar qualquer conhecimento adquirido sobre “espiritualidade” como justificativa para nos sentir como deuses. Proibida porque, quando finalmente aprendemos a ler e decodificar as palavras na página, descobrimos que mal começamos. Proibida porque exige tudo de nós — músculos e ligamentos, olhos e orelhas, obediência e adoração, imaginação e oração.

Nossos ancestrais criaram essa “disciplina proibida” (a expressão que usavam para defini-la era lectio divina11) como o currículo básico na mais exigente de todas as escolas, a Escola do Espírito Santo, estabelecida por Jesus quando disse aos discípulos: “Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade [...] receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês ” (Jo 16:13,15; cf. 14:16; 15:26; 16:7-8). Toda escrita que sai dessa escola exige esse tipo de leitura participativa, em que as palavras são recebidas de tal forma que se fixam em nosso interior; os ritmos e imagens
se tornando práticas de oração, atos de obediência, estilos de amor.

Palavras faladas ou escritas de acordo com essa metáfora da digestão — aceitas com liberalidade, degustadas, mastigadas, saboreadas, engolidas e digeridas — provocam em nós um efeito muito diferente daquele proporcionado pelas que chegam de fora, seja na forma de propaganda, seja na de informação. A propaganda trabalha a vontade de outra pessoa sobre nós, tentando nos induzir a uma ação ou crença. À medida que somos movidos pela propaganda, nós nos inferiorizamos, tornando-nos marionetes nas mãos de um escritor ou orador. Não há dignidade nem alma em uma marionete. E a informação reduz as palavras à condição de mercadorias que podemos usar segundo a nossa vontade. As palavras são removidas de seu contexto primitivo no universo moral e dos relacionamentos pessoais a fim de serem usadas como ferramentas ou armas. Tal transformação da linguagem em commodity também reduz tanto os que falam quanto os que ouvem a simples mercadorias. Ler é uma dádiva imensa, mas apenas se as palavras forem assimiladas, interiorizadas na alma — comidas, mastigadas, roídas, recebidas com deleite, sem pressa. As palavras de homens e mulheres mortos há muito tempo, ou separados por quilômetros e/ou anos, saltam da página e entram em nossa vida com frescor e precisão, transmitindo verdade, beleza e bondade; palavras que o Espírito de Deus usou e usa para soprar vida em nossa alma.

Nosso acesso à realidade se aprofunda até os séculos passados, espalhando e através dos continentes.

No entanto, essa leitura também carrega consigo perigos sutis. Palavras apaixonadas de homens e mulheres, ditas em pleno êxtase, podem terminar desinteressantes na página e dissecadas por um olhar impessoal. Palavras de fúria, proferidas em meio a um sofrimento excruciante, podem se tornar rudes e secas, montadas e rotuladas como espécimes em um museu. O perigo em toda leitura é o de as palavras serem deturpadas em forma de propaganda ou reduzidas a mera informação, simples ferramentas e dados. Silenciamos a voz viva e reduzimos as palavras ao que podemos usar por conveniência e para obter lucro.

Um salmista zombou de seus contemporâneos por reduzirem o Deus vivo que falava e lhes dava ouvidos a um deus-objeto de ouro ou prata que pudessem usar. “Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam” (Salmos 115:8). Essa é uma advertência útil quando lidamos diariamente com a incrível explosão de tecnologia de informação e técnicas de propaganda. Essas palavras precisam ser resgatadas.

Eugene H. Peterson

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