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O uso das sortes na escolha do apóstolo Matias: a questão do precedente histórico em Atos

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O uso das sortes na escolha do apóstolo Matias: a questão do precedente histórico em Atos Empty O uso das sortes na escolha do apóstolo Matias: a questão do precedente histórico em Atos

Mensagem por Admin Qui Nov 08, 2018 1:35 pm



I. Introdução
Com a traição e, posteriormente, o suicídio de Judas, a equipe apostólica ficou desfalcada. Por isso, a igreja, reunida em Jerusalém enquanto esperava o cumprimento da promessa do Espírito, sob a liderança do apóstolo Pedro, percebeu a necessidade de encontrar um substituto para ocupar a vaga deixada por Judas. De acordo com Marshall (2008, p. 63-34),

“… no Evangelho, os Doze tinham uma função especial como apóstolos aos judeus, e tinham a certeza de passarem, no futuro, a sentarem-se em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 9.1-6; 22.28-30); o preenchimento da cifra provavelmente visava indicar que a tarefa de testificar de Jesus como Messias, diante dos judeus, era para ser continuada depois da ressurreição”.

A fim de justificar a substituição de Judas, Pedro faz um discurso, no qual cita duas passagens do Antigo Testamento. A primeira delas, “Fique deserto o seu lugar, e não haja ninguém que nele habite” (Sl 69.25 conforme At 1.20), é interpretada como uma referência à maldição recaída sobre Judas e seus bens. O segundo texto, “Que outro ocupe o seu lugar” (Sl 109.8 conforme At 1.20), é citado para comprovar a necessidade de se restaurar o círculo dos doze apóstolos.

II. O uso das sortes na escolha de Matias
Então, uma vez convencidos da necessidade de preencher a vaga deixada por Judas, os apóstolos elencam os pré-requisitos a que os candidatos ao apostolado devem satisfazer. Nesse sentido, Kistemaker (2006, p. 97) destaca que “são duas as qualificações para o apostolado; o possível apóstolo deve ter sido treinado por Jesus desde o tempo do seu batismo até ao dia de sua ascensão; ele também precisa ser testemunha da ressurreição de Cristo”. Em decorrência dos critérios levantados apenas duas pessoas foram consideradas aptas a concorrer à vaga: José e Matias. Após orarem, pedindo ao Senhor que revelasse sua escolha, os apóstolos lançarem sortes e Matias foi, dessa maneira, nomeado para assumir o apostolado.

Diante do método utilizado, as sortes, pode-se questionar: foi correto lançar sortes para a escolha de Matias? Isso não foi fruto da superstição da igreja do primeiro século? Além disso, se o método foi correto e aprovado por Deus, então não poderíamos fazer o mesmo quando precisamos tomar decisões? Ou mais especificamente: atualmente, a igreja não deveria lançar sortes para eleger sua liderança?

É necessário destacar que embora o processo de escolha tenha culminado no uso das sortes, outras providências foram previamente tomadas pelos apóstolos, como um “conjunto de fatores que propiciaram a descoberta da vontade de Deus quanto a essa questão” (STOTT, 2008, p. 59). John Stott esclarece que, primeiramente, eles buscaram nas Escrituras, orientações gerais sobre a necessidade de substituir Judas. Ao aplicarem o Sl 109.8, “Que outro ocupe o seu lugar”, à situação em que se encontravam, Pedro juntamente com os apóstolos, demonstram que estão agindo em obediência ao que determina a Palavra de Deus, e não por suas próprias vontade e iniciativa. Em segundo lugar, seguindo o bom censo, os apóstolos buscaram discernir as qualificações necessárias para o ministério apostólico. Em terceiro lugar, eles recorreram à oração, ao entenderem que a escolha deveria ser feita por Cristo, pois uma vez que ele mesmo havia escolhido o grupo original, Ele também deveria escolher o substituto. Além disso, de acordo com a oração apresentada, Ele é o único que conhece o coração de todos e, portanto, pode fazer a escolha melhor que qualquer outro. Por fim, somente após percorrerem essas etapas, os apóstolos lançaram sortes entre os candidatos.

Contudo, a dificuldade permanece: o método utilizado foi válido? Ao que se pode responder: sim, sem dúvida, porque os apóstolos agiram de acordo com o conhecimento bíblico que possuíam e, mais ainda, porque Lucas não lhes fez nenhuma censura ao relatar o fato. Eles sabiam que o uso de sortes era comum no Antigo Testamento, a “Bíblia” como eles a conheciam. Kistemaker (2006, p. 100) exemplifica:

a) Os sumo sacerdote lançavam sortes através do Urim e Tumin (provavelmente duas pedras pequenas) para tomar decisões pelos israelitas (Êx 28.30);

b) Os israelitas lançaram sortes para distribuir a terra e determinar sua herança (Nm 26.55; Js 14.2; 15.1; 1Cr 6.54);

c) Os israelitas lançaram sortes para descobrir o pecado de Aça (Js 7.16-18);

d) O profeta Samuel lançou sortes para eleger Saul, rei de Israel (1Sm 10.20-21);

e) Os israelitas lançaram sortes para definir a escala de serviço dos sacerdotes e levitas no Templo (Ne 10.34; 11.1).

É nesse contexto histórico-religioso que Pv 16.33 ensina que Os homens jogam os dados sagrados para tirar a sorte, mas quem resolve mesmo é Deus, o SENHOR (NTLH). Portanto, através do uso das sortes, os apóstolos garantiriam que a escolha seria feita pelo próprio Senhor, e não por eles mesmos. Entretanto, a escolha de Matias foi a última vez em que se registrou o uso de sortes nas tomadas de decisão do povo de Deus. Marshall (2008, p. 67) destaca que:

“durante o período antes do Pentecoste, a igreja precisava encontrar algum outro meio de orientação divina que não fosse a ajuda do Espírito, mas o método que adotou (a oração e o lançamento de sortes) foi inteiramente apropriado. Na realidade, a igreja estava pedindo ao Senhor que fizesse a Sua escolha do homem certo, e a este foi ‘contado’ (ARA) como apóstolo.; não se pode dizer que a igreja o ‘elegeu’ ”.

Especialmente após o derramamento do Espírito em Pentecoste não há mais evidências dessa prática para nomeação dos líderes da igreja. Para exemplificar esta mudança de paradigma, já em Atos 6, quando surgiu a necessidade de eleger diáconos para auxiliarem a assistência às viúvas carentes, vê-se que o método utilizado foi a escolha direta pela igreja, a qual apresentou o grupo escolhido aos apóstolos para que orassem por ele e lhe impusessem as mão.

Em contrapartida, alguns estudiosos bíblicos alegam que a escolha de Matias, ainda mais prejudicada pelo emprego de sortes, foi precipitada, pois além do episódio da escolha, o livro não registra mais informações posteriores sobre ele. Defendem que Paulo seria o apóstolo escolhido por Deus para integrar o grupo dos Doze. Entretanto, essa posição pode ser facilmente refutada pelo fato de o texto não apresentar a decisão dos apóstolos de maneira reprovável. Além do mais, depois de At 1.13, nenhum apóstolo, exceto Pedro e João, é citado pelo nome no livro de Atos. Além disso, Paulo não possuía as qualificações necessárias para o ofício. E finalmente, em At 6, quando os apóstolos sentiram a necessidade de tomar uma decisão quanto à assistência às viúvas, o texto bíblico destaca que “os doze” convocaram os discípulos para resolverem a questão. Este fato evidência que Matias foi considerado verdadeiro apóstolo e que completou efetivamente o número da equipe apostólica.



III. O problema do precedente histórico
As dificuldades encontradas na interpretação e, mais ainda, na aplicação deste texto giram em torno da questão do precedente histórico. Este fator questiona quanto do que encontramos nos textos narrativos da Bíblia pode ser imitado pelos leitores da atualidade. Ou seja, quanto do livro de Atos simplesmente descreve o que aconteceu com os cristãos daquela época, e quanto determina o que deveria acontecer com os cristãos de hoje? Será que todos os comportamentos da igreja primitiva, relatado em Atos, devem ser copiados pela igreja contemporânea? Por exemplo: devemos fazer eleições na igreja jogando a sorte? Devemos vender todos os nossos bens e doar aos pobres? Toda a manifestação do Espírito deve ser acompanhada do dom de línguas?

Fee e Stuart (2011, p. 144), abordando esse desafio hermenêutico, questionam:

“Como as narrativas individuais em Atos, ou qualquer outra narrativa bíblica, servem de precedente para as demais gerações da igreja, elas são precedentes? Ou seja, o livro de Atos tem uma palavra que não somente descreve a igreja primitiva, mas também fala como uma norma para a igreja em todos os tempos? Se há semelhante palavra, como podemos descobri-la ou como podemos estabelecer princípios que nos ajudem a escutá-la? Se não há, então o que fazemos com o conceito do precedente? Em suma, qual o papel exato que o precedente histórico desempenha na doutrina cristã ou na compreensão da experiência cristã?”

Como resposta a essas questões, Stott (2008, p. 12) apresenta as seguintes sugestões:

“Precisamos procurar o que se ensina sobre o assunto, primeiramente no contexto imediato (dentro da própria narrativa), depois naquilo que o autor descreve em outras passagens e, finalmente, no contexto mais amplo das Escrituras como um todo”.



IV. Conclusão
Portanto, adotando a recomendação acima e ao analisarmos o contexto imediato de Atos 1, percebemos que a decisão tomada pelos apóstolos ao empregarem as sortes não foi feita de forma precipitada, como uma resposta buscada no acaso, pois além de utilizar um padrão conhecido, eles buscaram o respaldo das Escrituras, usaram o bom censo e oraram. A seguir, investigando o que Lucas escreve no restante de Atos, percebemos que após a descida do Espírito sobre a igreja em Atos 2, não se encontra o uso das sortes para discernir a vontade de Deus ao tomar decisões. Além disso, ao buscar o contexto mais amplo das escrituras, encontramos Jesus prometendo que “quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade” (Jo 16.13) e Paulo assegurando-nos que “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8.14).

Enfim, conclui-se que ainda que o uso das sortes, empregado pelos apóstolos para a nomeação de Matias, tenha sido um método válido e apropriado, o mesmo não poderia ser copiado hoje pelos cristãos, os quais vivem na direção do Espírito Santo, que habita neles e os guiam. Entretanto, a passagem ainda tem muito a dizer aos crentes da atualidade sobre a importância do conhecimento da Escritura, do bom censo e, sobretudo, da oração para as tomadas de decisões.



V. Bibliografia
FEE, G. D.; STUART, D. Entendes o que lês?: um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

KISTEMAKER, S. Atos: volume 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. (Comentário do Novo Testamento)

MARSHALL, I. H. Atos: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008. (Série Cultura Cristã)

STOTT, J. A mensagem de Atos: até os confins da Terra. 2. ed. São Paulo: ABU, 2008. (A Bíblia fala hoje)

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